O escritor Ariano Suassuna morreu na tarde desta quarta-feira (23).
Ele passou mal em casa, na noite de segunda-feira (21), e foi levado ao
Real Hospital Português, em Recife (PE), após ter sofrido um acidente
vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Infelizmente, assim como João
Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves, Suassuna foi mais um, dos principais
escritores brasileiros que faleceu neste julho de 2014
Suassuna, que tinha 87 anos, morreu às 17h15, de parada cardíaca, provocada pela hipertensão intracraniana.
Como pernambucana Luciana contou que esteve com Ariano em muitas
situações e que ele sempre foi cordial e gentil no trato com as pessoas.
“No nosso último contato direto, em ato da campanha, insistiu para me
ceder o lugar em que estava sentado. Esse gesto de cavalheirismo, de
preocupação e cuidado com o outro me vem com muita força nesse momento
de despedida. Excelente contador de histórias, pessoa de agradável
convívio, homem lúcido e íntegro, ícone da nossa cultura”.
A deputada salientou ainda que o escritor deixará marcas no
imaginário popular. “De certa maneira, ele conseguiu entender a alma do
povo”, ressaltou Luciana Santos.
O jornalista, escritor pernambucano e colunista do Vermelho, Urariano
Mota, falou à Rádio Vermelho sobre Suassuna. “Um nacionalista sem
trégua. Amante do povo brasileiro, amante incurável, sem remédio ou
subserviência”.
Para Urariano, “o mais importante é destacar que ele era um
humanista, um conhecedor de humanismo clássico, um homem cultíssimo, um
erudito que se disfarçava bem na fala de sertanejo, no sotaque
pernambucano, nordestino entranhado. No seu amor pelo povo, no
nacionalismo que busca o melhor da civilização brasileira, era um
exemplo a ser seguido por todos os escritores brasileiros”, disse.
Em vida
Nascido em João Pessoa, quando a capital paraibana ainda se chamava
Nossa Senhora das Neves, em 1927, ainda adolescente, Ariano Vilar
Suassuna foi morar no Recife, onde terminou os estudos secundários e
deixou seu nome marcado na cultura literatura brasileira, especialmente
no teatro e na literatura.
Em 1946, na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante de
Pernambuco, junto com o amigo Hermilo Borba Filho. No ano seguinte,
escreveu sua primeira peça teatral, Uma Mulher Vestida de Sol, seguida
de Cantam as Harpas de Sião e Os Homens de Barro. Em 1955, escreveu sua
obra mais popular, Auto da Compadecida, que conta as aventuras de dois
amigos, Chicó e João Grilo, no Nordeste brasileiro. A peça foi adaptada
duas vezes para o cinema, em 1969 e 2000.
Suassuna continuou criando, escrevendo peças de teatro, romances e
poesias. O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça e Romance d’A Pedra do
Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta são algumas das dezenas de
obras dele. A maioria delas foi traduzida para outros idiomas, como
francês, alemão, espanhol, inglês e holandês. Em 1989, passou a ocupar a
Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.
Carismático, Suassuna esbanjou simpatia por onde passou. Mais
recentemente, apresentou sua “aula-espetáculo” por todo o Brasil, onde
ensinou formas de arte para o público e mostrou a riqueza da cultura do
país, contando histórias, “causos” e piadas. Suassuna mostrou ao povo
brasileiro como ele é inventivo, engraçado, esperto e interessante e
provou que não existe nada do lado de lá das fronteiras que possamos
invejar.
Em uma de suas últimas passagens por Brasília, Suassuna encerrou a
aula-espetáculo valorizando, não sua obra, mas a de outro brasileiro. O
escritor citou o filósofo Matias Aires como exemplo da qualidade
nacional, mas também como um resumo da sua própria trajetória, “e da de
todos nós”, neste mundo.
“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a
fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada
um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que
logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o
que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma
das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com
esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a
cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna.
Da redação do Vermelho, com informações da Agência Brasil
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