A obra do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, agora é tema
de diversos cordéis reunidos no livro Paulo Freire em cordel, lançado
pelo professor Hailton Mangabeira, mês passado.
Segundo o educador, a ideia de publicar o livro sobre Paulo Freire
nasceu da necessidade de reunir textos próprios e de alguns, com o
intuito de propiciar aos leitores um pouco da vida e da obra deste
educador numa linguagem diferente. “É uma alegria escrever sobre ele.
Participamos, por todo o País, de eventos com a temática Paulo Freire.
Já havia publicado seis cordéis voltados para a vida, obra e os seus
desdobramentos para a sociedade. De certa forma, havia uma cobrança
natural para este sentido do livro, pois já são 122 cordéis e dois
filmes produzidos, então o livro seria a continuidade do trabalho”,
salienta Hailton Mangabeira.
De acordo com ele, Paulo Freire representa um marco exponencial na
história da educação brasileira. Não é à toa que recebeu mais de 40
títulos de Doutor Honoris Causa, em várias universidades no Brasil e
exterior, entre elas, dos Estados Unidos, na Universidade de Harvard,
que foi uma das universidades onde Paulo Freire lecionou durante o
período do Regime Militar em que estava exilado do Brasil pelo fato de
alfabetizar pessoas. “Diante da grandiosidade do legado de Paulo Freire,
o governo brasileiro, através da Lei nº 12.612 do dia 13 de abril de
2012 e publicada no DOU no dia 16/04/2012, foi declarado Patrono da
Educação Brasileira. Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados
à educação e, especialmente, ao Rio Grande do Norte, o Governo do
Estado, através do decreto Nº 23.323, de 27 de março de 2013 instituiu o
ano de 2013 como Ano Paulo Freire da Educação do Rio Grande do Norte”,
explica o educador.
Para ele, uma das principais contribuições de Paulo Freire é a forma
“como devemos nos posicionar, enquanto educadores e cidadãos, em relação
aos educandos e à nossa maneira de como proceder na prática pedagógica,
tendo foco inicial no universo do aluno e a sua participação no mundo.
Nesse sentido, a presença dele em Angicos foi emblemática. Angicos foi
epicentro do trabalho de alfabetização que chamou a atenção do mundo em
1963 desenvolvido por Paulo Freire e sua equipe. O trabalho, que ficou
conhecido com “As quarenta horas de Angicos”, alfabetizou 300 adultos…
Alfabetizar e politizar. É preciso lembrar que naquela época só votada
quem era alfabetizado, e 300 votantes podia desequilibrar toda a
situação política local”, salienta.
A PAIXÃO PELA EDUCAÇÃO E O LIVRO
A paixão pela educação surgiu a partir da própria família. “Minha mãe
era educadora e foi quem despertou em mim essa paixão, não só por Paulo
Freire, mas também pela literatura de cordel. Não basta apenas admirar,
ler ou discutir Paulo Freire, é preciso vivenciar, pôr em prática e
minha mãe fazia exatamente isso. Hoje, recebo incentivo constante do
grupo de pesquisa GELFOPIS – Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação
Profissional, Linguagens, Formação Docente e Inclusão Social do IFRN, ao
qual sou vinculado ao CNPQ, que tem como líder do grupo a
professora-doutora Andrezza Tavares e que criou a linha de pesquisa:
Paulo Freire e a literatura de cordel. Além do grupo, temos apoio
institucional do Instituto Paulo Freire, de São Paulo”, explica.
CRÍTICA
Para o professor Marcos José Castro Guerra, escolas e universidades,
comunicadores e professores, dispõem nestes simples folhetos, de uma
porta de entrada para incentivar as necessárias mudanças do sistema
educativo. “Novos valores e novas formas poderiam vir a dar prioridade
ao aprender – como aprendem os brasileiros. E por um momento mudar o
foco, hoje preocupado exclusivamente no ensinar – como ensinar aos
brasileiros. Os folhetos atingem o coração, e não só a inteligência do
povo. Dispõem de um poder de difusão que antecedeu novos meios de
comunicação de massa, hoje expandidos com o uso quase generalizado de
telefones celulares, que derrubam as fronteiras para a comunicação
oral”, frisa.
Já a professora e poetisa Maria Luzinete Dantas salienta que o poeta
Mangabeira, em seu livro Paulo Freire em cordel, “reforça a importância
do legado do escritor homenageado para o crescimento da educação
popular, pois Freire não se limitou apenas a falar e escrever, mas
procurou colocar em prática uma forma inovadora de ensinar e aprender, a
partir de conhecimentos concretos do cotidiano dos alunos”.
Obra fará parte do II Seminário Paulo Freire
Hailton diz que é muito difícil fazer cultura no Brasil e no RN não
seria diferente, mas ele não faz dessa dificuldade um entrave para a
produção. “Vou escrevendo independentemente de apoio. Já são 122 cordéis
produzidos e publicados, e em poucos tive apoio. Mas tenho certeza que
seria numa amplitude muito maior se tivéssemos apoio para a produção e
divulgação desses trabalhos. No entanto, existem algumas instituições
que muito nos apoia, como o IFRN – Campus Central e IFRN – Campus Cidade
Alta. Também destaco especialmente A Casa do Empresário de Macaíba, na
pessoa de Luiz Lacerda, que tem dado uma contribuição preciosa aos
artistas locais, tanto na produção quanto nos eventos”, destaca.
Para o autor, é quase impossível mensurar o alcance de uma obra
literária. “Não podemos mensurar, quando estamos escrevendo, o alcance
da obra, mas tenho convicção que o nosso trabalho alcançará uma
visibilidade interessante nas universidades do Brasil e exterior. Faz um
enorme bem receber elogios sobre o trabalho, que conta também com o
incentivo de outros cordelistas amigos, como Boquinha de Mel,
Crispiniano Neto e Luzinete Dantas. Além de contar com o prefácio de
Nita Freire (esposa de Paulo Freire), a orelha por Lutgardes Freire
(filho de Paulo Freire) e a quarta capa por Moacir Gadotti”, diz.
Ele explica que o lançamento oficial da obra acontecerá em Macaíba
durante o II Seminário Paulo Freire, nos dias 29, 30 e 31 deste mês.
O AUTOR
Hailton Mangabeira nasceu em Macaíba-RN, em 9 de janeiro de 1973. É
graduado em Pedagogia e Geografia, especialista em Educação. Atualmente,
é professor da rede pública de ensino. Também aluno do Mestrado em
Educação. Como cordelista, publicou mais de 120 cordéis.
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