Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Luís Carlos Heinze, sugere a ação armada dos agricultores contra índios e ofende minorias (Foto: Agência Câmara).
 
No dia em que se completou nove anos da morte da irmã Dorothy Stang, um dos símbolos de defesa da floresta e de seus habitantes, a Mobilização Nacional Indígena divulgou imagens que mostram representantes da bancada ruralista protagonizando mais uma cena de afronta pública aos direitos de índios e outras minorias. 

Em vídeo gravado durante uma audiência em Vicente Dutra (RS), parlamentares como os deputados Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) não só incitam a violência contra lideranças indígenas que tentam retomar suas terras invadidas por fazendeiros, grileiros e madeireiros, como também insultam gays e lésbicas, e refoçam o discurso inverossímil acerca da demarcação de terras indígenas para o público de produtores rurais.

Nas imagens, os parlamentares se referem a índios, quilombolas e homossexuais como “tudo o que não presta”, e estimulam agricultores a usarem de segurança armada para expulsar indígenas do que consideram serem suas terras. 

“Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra, mas lhes digo: se fartem de guerreiros e não deixem um vigarista  desses dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Nenhum! Usem todo o tipo de rede. Todo mundo tem telefone. Liguem um para o outro imediatamente. Reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário”, disse o deputado Alceu Moreira. “A própria baderna, a desordem, a guerra é melhor do que a injustiça”, defendeu.

Na tentativa de colocar o público contra o próprio governo, de cuja base eleitoral o seu partido (PMDB) faz parte, ele afirma que o “movimento pela demarcação de terras indígenas” seria uma “vigarice orquestrada” pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Moreira diz também que tal movimento seria patrocinado pelo Ministério Público Federal, o qual, segundo ele, defenderia a “injustiça”. Ao contrário do que sugere, porém, a demarcação de terras indígenas é direito previsto na Constituição Federal, e o governo Dilma é notadamente o que menos demarcou terras desde a Ditadura Militar.

Impunidade na esteira do retrocesso
No dia 12 de fevereiro de 2005, a missionária Dorothy Stang, que trabalhava com pequenos agricultores na região de Anapu (PA), foi assassinada por se posicionar a favor da vida da floresta e de seus defensores. Até hoje, nenhum dos acusados de serem mandantes do crime foi punido. O seu assassinato representa só mais um capítulo de atentados contra índios, quilombolas e outras minorias.

Os que ainda resistem lutam para que as histórias da irmã Dorothy e de outros sejam mais do que meras estatísticas de violência no campo. Eles esperam justiça e governança na Amazônia, para que atitudes como as propostas acima pelos deputados não se tornem a maneira corrente de cessar conflitos fundiários.