terça-feira, 8 de março de 2016

O invisível: homem que morreu por dentro e sobreviveu por fora


Crônica escrita por Cyrus Benavides
Talvez muitos já o tenham visto. Ele perambula pelas ruas de Natal com olhos perdidos num horizonte que não existe. Sua fisionomia assusta. Seus cabelos são incrivelmente longos e sujos. Fios endurecidos pela sujeira do tempo. Não é pedinte, pois nada pede. Junta restos e sobras, e isso é o bastante. Nunca foi visto um sorriso em seu rosto. Esqueceu de ser gente. Morreu por dentro e sobreviveu por fora. Não tem casa. Não tem a quem amar. Cidadania é algo que nunca existiu.
Tempos atrás dei uma palestra e terminei com um vídeo sobre o mendigo poeta. A história de uma jovem que abordou um mendigo que morava num canteiro de rua, nunca tinha cortado o cabelo e passava horas escrevendo em papéis de lixo. Ela colocou foto nas redes sociais e a família o encontrou. Estava desaparecido.
Se eu pudesse, lançaria uma campanha em busca da família desse senhor. É impossível que alguém seja sozinho no mundo. É inacreditável que não exista a quem amar ou por quem viver.
Meu pai parou o carro para apertar a sua mão. Entregou 10 reais e não viu sequer expressão de felicidade na face do homem. Tantas vezes tive vontade de parar e nunca tive coragem. Tantas vezes quis fazer algumas perguntas: Onde nasceu; Sua família; Se já amou; Se já teve um sonho; Por qual razão o isolamento;
Precisamos fazer mutirões para salvar tristes corpos que vagam pelas ruas. Precisamos ressuscitar almas que nunca sorriram. Descobrir familiares desaparecidos. Madre Tereza pregava : AS MÃOS QUE AJUDAM, SÃO MAIS SAGRADAS DOS QUE OS LÁBIOS QUE REZAM.

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