quarta-feira, 6 de novembro de 2019

PROTESTO >> O ator/diretor transmite mensagem política na estreia de “Marighella”, que tem presença de Jean Wyllys e atos por Marielle e Lula



























O primeiro filme dirigido pelo ator Wagner Moura, Marighella, estreou nesta sexta-feira 15 na mostra principal do Festival de Cinema de Berlim. A obra retrata a história de Carlos Marighella, guerrilheiro baiano assassinado pela ditadura militar em 1969.
A estreia foi marcada por protestos. No tapete vermelho, Wagner Moura entrou com uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco. A execução da ativista e de seu motorista Anderson Gomes completou onze meses e, até hoje, o crime permanece sem respostas. O público acompanhou a entrada da equipe gritando “Marielle presente”.
“Nosso filme não é obviamente somente sobre os que resistiram nas décadas de 1960 e 1970, mas é também sobre os que estão resistindo agora”, afirmou Moura após a exibição do filme, arrancando aplausos da plateia.
Falando em inglês, o diretor disse acreditar que será “extremamente difícil” lançar o filme no Brasil, mencionando a polarização política. Segundo ele, a participação na Berlinale, ao promover internacionalmente a obra, será importante para a estreia do filme em solo brasileiro.
Moura chamou ao palco a equipe do filme e encerrou seu pequeno discurso de cerca de cinco minutos entoando “Marielle presente”.
FÃS SEGURAM UMA FAIXA PERTO DO TAPETE VERMELHO ANTES DA ESTRÉIA DO FILME “MARIGHELLA” EXIBIDO FORA DA COMPETIÇÃO DURANTE O 69º BERLINALE. (FOTO: TOBIAS SCHWARZ / AFP)
Em coletiva de imprensa na quarta-feira, o brasileiro já havia lembrado a morte da vereadora. “Marighella foi assassinado em 1969. Um homem negro, revolucionário, de esquerda. Foi assassinado pelo Estado dentro de um carro há 50 anos. E 50 anos depois de Marighella, uma vereadora no Rio de Janeiro, também negra, de esquerda e defensora dos direitos humanos, foi assassinada dentro de um carro provavelmente também por agentes do Estado”, afirmou.
Questionado se o filme é declaração ao novo governo brasileiro, o diretor disse não se tratar de uma resposta ao presidente Jair Bolsonaro, que em diversas ocasiões já saiu em defesa da ditadura militar e manifestou abertamente apoio à tortura.
“Esse filme é provavelmente um dos primeiros produtos culturais da arte brasileira que está em contraste com o grupo que está no poder no Brasil”, acrescentou.
WAGNER MOURA, A NETA DE CARLOS MARIGHELLA, MARIA, A ATRIZ BELLA CAMERO E BRUNO GAGLIASSO NO TAPETE VERMELHO (FOTO: TOBIAS SCHWARZ / AFP)
Inspirado na biografia Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras), escrita pelo jornalista Mário Magalhães, o filme conta com o músico e ator Seu Jorge no papel principal. O elenco tem ainda outros nomes de peso como Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, que interpreta o policial que perseguiu Marighella, e Humberto Carrão.
“Esse filme é forte, é visceral, é potente, mas é movido por amor. Isso ninguém pode esquecer”, afirmou Gagliasso na coletiva.
A narrativa do filme começa logo após o golpe militar de 1964 e mostra os últimos cinco anos da vida do guerrilheiro. Apesar de ter sido selecionado para a mostra principal do festival, Marighella não concorre ao Urso de Ouro.

Primeira aparição pública de Jean Wyllys

A estreia do filme contou ainda com a presença de Jean Wyllys (Psol), na primeira aparição pública do ex-deputado desde que ele anunciou que estava desistindo de seu terceiro mandato no Congresso para deixar o Brasil. Ameaçado de morte, o parlamentar vivia com escolta policial desde o assassinato de Marielle.

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