Fonte: Jornal Gazeta do Oeste
Coloração marrom e odor de dar ânsia de
vômito. Essa é a descrição da água que chega até as torneiras da
população do município de Pau dos Ferros há aproximadamente seis meses.
Cansados de reclamar e sem saber a quem recorrer, moradores da cidade se
veem obrigados a comprar água levada de Apodi por não suportar consumir
a que é oferecida em sua cidade.
O abastecimento de água de Pau dos Ferros se encontra no estado
crítico, com menos de 13% da capacidade do seu reservatório, a Barragem
de Pau dos Ferros. Devido a esse baixo volume de água ocasionado pela
falta de chuvas dos últimos anos, a água que tem chegado às residências
dos pau-ferrenses tem gerado muitos transtornos na cidade. Hotéis,
pousadas e restaurantes sofrem com a diminuição da clientela.
Esse é o caso da empresária Ivanalda Oliveira, que administra o
Terminal Turístico de Pau dos Ferros Lindalva Torquato Fernandes. Ela
afirma que o movimento de clientes no Terminal caiu em torno de 60%. "Já
trabalho aqui há mais de 11 anos e os meses de setembro e outubro
costumam ser bem movimentados, mas depois que a água começou a vir desse
jeito, com esse mau cheiro muitos clientes deixaram de vir. O pior é
que não podemos fazer nada, não temos condições de comprar outra água
para oferecer, pois já temos gastado muito tendo que comprar para
cozinhar. Está muito difícil para mantermos o estabelecimento aberto já
que aumentou a despesa e diminuiu a clientela", afirma.
A empresária conta que por mês está comprando água de quatro
caminhões-pipa que vão de Apodi. Cada um custa R$ 50,00. "Compramos essa
água só para cozinhar e beber, os demais serviços, como banho e limpeza
temos que usar a água daqui mesmo, não tem outro jeito. Não sei como
vai ser daqui pra frente já que o que se ouve falar é que quanto mais a
barragem seca, mas a qualidade da água piora", lamenta.
O mesmo drama de Ivanalda Oliveira é enfrentado pelo dono de uma das
pousadas da cidade, o empresário Anísio Marques de Sousa. Com 51
apartamentos para gerenciar, ele conta que tem sido bastante prejudicado
pela péssima qualidade da água que chega à cidade. "A gente não pode
fazer nada. Os hóspedes reclamam, mas infelizmente é uma realidade que
estamos enfrentando e que ninguém sabe quando vai acabar. O que vem
acontecendo acima de tudo é falta de interesse político em se unir para
resolver esse problema. Eles tentam resolver o problema com medidas
paliativas que na verdade não servem. Tem que haver é união de todas as
esferas, aí sim encontrarão o caminho para solucionar esse problema da
água. Não tem cabimento uma cidade em pleno desenvolvimento como Pau dos
Ferros oferecer uma água dessa qualidade", declara o empresário.
Ele conta que também tem comprado água de poços vinda de Apodi para
ser utilizada apenas na cozinha do restaurante. "Não temos condições de
comprar água para abastecer os apartamentos, então vamos comprando pelo
menos a de cozinhar. No final do mês tenho duas contas de água para
pagar. É um absurdo. A presidente Dilma veio ao RN e nenhum político
falou com ela a respeito dos problemas que estamos enfrentando com a
água. Mais uma vez digo que está faltando interesse político", reclama.
CAERN
MP ajuíza ação para garantir o abastecimento de água potável
O Ministério Público do Rio Grande do Norte, por meio da Promotoria
de Justiça da Comarca de Pau dos Ferros, ajuizou ação civil pública
contra o Estado, o Município e a Companhia de Águas e Esgotos do Rio
Grande do Norte (CAERN) com a finalidade de que sejam realizadas obras
que garantam a continuidade, pela rede canalizada, em definitivo, do
abastecimento doméstico de água potável na cidade.
Na ação ajuizada pelo promotor de Justiça Mac Lennon Lira dos Santos
Leite, o MPRN também pede que Estado, Município e Caern façam
planejamento para abastecimento temporário por carro-pipa em caso de
colapso no sistema de abastecimento atualmente implantado.
Essa medida visa garantir o fornecimento de água potável e de
qualidade à população. Além disso, a ação ainda pede que seja iniciado o
racionamento da água disponível na barragem da localidade, a fim de
postergar o iminente colapso no abastecimento de água em Pau dos Ferros.
A Promotoria de Justiça apurou que o mau cheiro seria resultado do
tratamento insuficiente dado pela Caern à água, já que foi identificada a
falta da etapa de decantação. Mesmo tratada, a água estaria sendo
distribuída com algas, que chegam às caixas d"água das residências, e
sem a luz do sol para a fotossíntese, provavelmente morrem e se
decompõem, deixando o mau cheiro.
O Instituto Estadual de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA) atestou o
processo de eutrofização (proliferação de algas) no reservatório da Pau
dos Ferros. Com a ação, o MP Estadual arrazoa em Juízo que o tratamento
da água de Pau dos Ferros não está sendo suficiente para manter a
potabilidade durante o período de consumo, o que pode causar riscos para
os consumidores.
População pede providências para mudar situação
Lucélia Nobre é comerciante em Pau dos Ferros e semanalmente é
obrigada a comprar garrafões de água para beber e cozinhar para a
família, já que a água que chega às torneiras é praticamente
inutilizável para esses fins. Ela reclama do gasto com a compra. São 15
garrafões por semana, cada um ao preço de R$ 2,50 o de água do poço e R$
4,50 o de água mineral.
"É um gasto muito grande pra gente que vive do comércio. Praticamente
todo o lucro de um dia de vendas é usado para comprar água. Quando
chega ao final do mês ainda tem a fatura da Caern para pagar. É um
absurdo uma coisa dessas", diz.
A mesma reclamação parte do seu colega de feira, o ambulante Pedro
Justino Neto, que teve que improvisar um reservatório de água extra para
armazenar a água que compra de Apodi. "Limpei e dei um jeito numa caixa
d"água que tinha em casa de 40 litros. Estou comprando e armazenando só
para cozinhar e beber", destaca.
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