terça-feira, 27 de maio de 2014

Arte na foto digital

Argemiro Lima/NJ
Foto: Argemiro Lima/NJ.

A exposição "DigiFoto-Arte" reúne imagens de fotógrafos integrantes Associação Internacional APC 15; a ação segue aberta até o 31 na Pinacoteca do Estado 

Já se foi o tempo em que as máquinas fotográficas eram associadas a objetos pesados e quase imóveis, do qual era extremamente caro extrair uma imagem. A revolução tecnológica, principalmente com o avançar da primeira década dos anos 2000, tratou de mudar essa realidade com o advento da fotografia digital.


Seja no celular ou até mesmo na câmera que não precisa de filme, e sim do cartão de memória, a fotografia digital se tornou muito mais prática para fazer a arte circular o mundo inteiro e também para modificar a própria cena, a exemplo da Associação Internacional APC 15, que reúne apenas profissionais da imagem conectados com a realidade digital.

Presidente da associação e produtor cultural, o suíço Alain Gegauf recebe a reportagem na Pinacoteca do Estado para explicar justamente esse conceito, que é a síntese da mais nova exposição em cartaz por lá, “DigiFoto–Arte”. O evento segue aberto à visitação até o dia 31 de maio, reunindo três imagens de cada um dos 15 fotógrafos integrantes do APC 15.

Ao visitar a exposição, o público pode perceber, ao lado de cada fotografia, um pequeno relato dos autores das imagens. Todos deixaram de trabalhar com a câmera analógica no início dos anos 2000 e, desde então, se dedicam apenas à fotografia digital. A associação, fundada em 2012, reúne 15 fotógrafos de cinco países diferentes: Alemanha, Áustria, Grécia, Suíça e Brasil, que conta com apenas um representante.

“Utilizamos muito o Google Drive para que eles possam armazenar suas imagens, e assim a gente pode montar as exposições ao redor do mundo inteiro”, comenta o presidente da APC 15, Alain Gegauf, frisando que, após a exposição em Natal, o coletivo também deve levar o trabalho para um navio brasileiro com trajeto Manaus/Belém. A previsão é que ele aporte em seis cidades diferentes durante o trajeto.

“No ano passado, fizemos uma exposição na Praia de Ponta Negra, no Morro do Careca, e é impressionante como as pessoas que paravam para olhar são as mais diferentes possíveis, pessoas que não estão acostumadas a ir em um museu”, avalia o suíço que vive em Natal desde 1999.

“A cultura fotográfica digital está se convertendo em objeto econômico graças à influência que as novas tecnologias da fotografia digital começaram a exercer no nosso cotidiano. Em Nova York, por exemplo, a cultura industrial cresceu na Wall Street como o segundo mais importante segmento da indústria, com um valor estimado em U$$ 18 bilhões de dólares”, avalia o fotógrafo que é também economista.
Parte das fotos expostas na Pinacoteca pode ser levada para casa a um preço simbólico de R$ 10, através de um calendário 2014 que reúne as melhores imagens dos artistas em cada mês do ano. No site “apc15.com.br”, o público tem a possibilidade de entrar em contato diretamente com os fotógrafos integrantes do coletivo para negociar suas preferidas.

Ainda sobre a exposição que continua em cartaz na Pinacoteca do Estado, Alain explica que o conceito “Digi Foto Arte” explora o surrealismo, abstrato e expressionismo através da fotografia, aliada à arte digital. “Dentro do APC15 os estilos são muito variados. Cada um tem o seu trabalho muito definido por suas particularidades”, esclarece.

Há quase 15 anos em Natal, Alain Gegauf faz elogios à Pinacoteca, mas reconhece que a divulgação dela por parte do poder público ainda é tímida. “É um lugar tão lindo. Merecia mais visitantes que pagassem R$ 1 na entrada para que o recurso pudesse ser usado em pequenas obras de melhoria. Se você pergunta onde fica a Pinacoteca potiguar ninguém sabe informar”, sugere, elogiando o trabalho do atual diretor Mathieu Duvignaud. “Ela está em boas mãos”, frisa.

Alain chegou ao Brasil ainda na década de 70 para cuidar dos negócios da família, que estava abrindo uma fábrica de máquinas de costura em São Paulo (sua família é pioneira no ramo). O encanto foi tão grande que ele resolveu ficar. “Hoje em dia sou mais brasileiro que suíço”, brinca o economista, que cresceu recebendo apoio da família europeia para suas ações artísticas.

H. R. Giger

Em junho, a Pinacoteca deve receber mais uma exposição idealizada pelo suíço, mas desta vez com peças exclusivas do artista plástico suíço Hans Rudolf Giger, ou H. R. Giger, como era mais conhecido. Todas as peças pertencem ao acervo particular de Alain, que era amigo do artista plástico.

Ligado ao surrealismo, H. R. Giger ficou mundialmente conhecido ao criar o monstro protagonista de “Alien”, trabalho que lhe rendeu também o Oscar de melhores efeitos especiais em 1980, junto com o cineasta inglês Ridley Scott.

“Era uma mente brilhante e revolucionária. Eu lhe ajudava a encontrar investimentos para a sua arte, o que não era uma tarefa fácil. A maioria dos patrocinadores era alemã, porque a Suíça mesmo não valorizava seu trabalho”, conta.

Alain e Giger se conheceram ainda na infância por intermédio de suas famílias. “Vou doar essas peças que tenho dele. Não sei se vai permanecer no arquivo da Pinacoteca, mas acredito que, pelo valor delas, todas devem ser bem guardadas. Não posso deixar comigo por muito tempo porque nenhum artista gosta disso, no fundo, todos querem que suas obras sejam vistas por milhões de pessoas”, avalia.

“Giger foi, com certeza, o número um das artes fantásticas”, complementa sobre o artista que faleceu recentemente, aos 73 anos, vítima de uma queda. “Seu maior trabalho no cinema foi com o Ridley Scott e depois disso ele chegou até a fazer um filme com o Steven Spielberg”, conta.

Amigo do presidente da Fifa

Alain Gegauf também é amigo de outra importante figura, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, a quem defende. De acordo com o produtor suíço, Blatter “não é esse monstro que a mídia pinta”.

“Ele não é um ditador, não é Napoleão. Ele faz muitas doações e o jornalismo muitas vezes não faz a crítica correta. Ele fez muito pela educação na África do Sul. Não é esse homem malvado que pensam, agora é claro que ele precisa agir de forma política, uma vez que mais países fazem parte da FIFA do que da ONU”, considera.

Quando conheceu Blatter, o também economista ainda não era presidente da FIFA. De acordo com Alain, a Federação Internacional de Futebol começou de maneira muito “pequena” em Zurique (capital da Suíça), após ter se mudado de Paris, primeira sede oficial da entidade.

“Acredito que o Brasil precisava receber essa copa depois de tanto tempo desde a última realizada aqui. Ninguém sabe aonde vai parar essa polêmica toda envolvendo saúde, educação e segurança, mas certamente já é um problema mais antigo do que a própria FIFA e ela não pode ser culpada por tudo isso”, comenta.

Ainda enquanto morou no estado de São Paulo, mais especificamente em “Itu”, Alain participou do conselho administrativo do São Paulo Futebol Clube e, no ano de 2007, foi conselheiro oficial da FIFA na cidade.

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