1 – Apenas no primeiro dia deste novo massacre (julho de 2014) foram realizados 273 ataques aéreos (cerca de 11 por hora)
em uma área com 40 km de comprimento por 12 km de largura povoada por
1,7 milhão de pessoas (uma das áreas mais densamente povoadas no mundo).
Imaginem a catástrofe que é uma área do tamanho do Plano Piloto de
Brasília com uma população tão grande assim e recebendo um pesado
bombardeio aéreo a cada 6 minutos. A estimativa dos hospitais é que
ficarão sem recursos para atender os feridos em dois dias. A
eletricidade é intermitente e não existe qualquer indicativo de que
Israel parará o massacre, apesar dos pedidos de diversas nações do
mundo.
2 – Embora o Acordo de Paz firmado em 1948 entre a Palestina e Israel
(país que estava sendo criado naquele momento) garantisse a divisão
quase igualitária do território entre estes dois países (55% para Israel
e 45% para a Palestina), desde 1967 (ano da Guerra dos Seis Dias),
Israel ocupa ilegalmente os territórios palestinos, restringindo cada
dia mais seu tamanho. Ainda no ano de 2012, Israel ocupava 78% do
território e este número não para de crescer. Cada dia que Israel
permanece e avança sobre os territórios palestinos ocupados é uma
afronta aos Direitos Humanos e ao acordo internacional que poderia
trazer finalmente paz para aquela região.
3 – A ocupação israelense é seletiva, tomando dos palestinos as
terras férteis, com acesso a água e recursos naturais, inviabilizando
qualquer chance de subsistência ou desenvolvimento soberano. Hoje os
territórios palestinos dependem de Israel para ter acesso a tudo (água,
energia, alimentação, telecomunicações etc.). Israel tomou o peixe do
povo palestino e lhes proibiu de pescar.
4 – Todo tipo de ajuda humanitária precisa passar antes por Israel,
que proíbe visitas de ativistas de Direitos Humanos e pessoas
interessadas em diminuir a dor dos palestinos. Existem casos de
ativistas que morreram tentando impedir a derrubada de casas palestinas
em locais que estavam sendo invadidos por Israel. O caso de Rachel
Corrie, que foi atropelada a sangue frio por um trator que destruía
casas palestinas em áreas que estavam sendo tomadas por Israel, é
emblemático. Em 2012, um tribunal israelense foi isentado de qualquer
culpa no assassinato, alegando culpa da vítima e não do soldado que
assumiu o controle do trator após o trabalhador que o operava ter se
recusado a passar por cima da jovem militante.
5 – A Faixa de Gaza está no litoral do Mediterrâneo. No entanto, não é
possível enviar ajuda pelo mar para o povo palestino, pois Israel
proíbe. Em 2010, um corajoso grupo de onze ativistas de Direitos Humanos
de diversas partes do mundo (incluindo uma vencedora do prêmio Nobel da
Paz, Mairead Corrigan, uma das poucas premiadas que realmente merecia
tal honra) conseguiu um navio para levar comida e materiais escolares
para a Faixa de Gaza pelo mar. Embora o navio, batizado de Rachel
Corrie, já tivesse sido inspecionado pela ONU e por autoridades
iraquianas, com pedidos do governo irlandês para que não fosse
interceptado, foi tomado violentamente por Israel, que impediu sua
chegada, prendendo e deportando toda a sua tripulação. Não foi a
primeira nem a última vez que isto aconteceu, envolvendo casos de
assassinatos de ativistas nas invasões e tomada dos barcos.
7 – Imagine que quando você quer viajar, ou quando avalia que as
condições em seu país estão difíceis, você pode ir a outro país e
retornar ao seu quando quiser. Pois esta não é uma opção para os
sobreviventes da Faixa de Gaza. Pelo contrário, Israel busca de todas as
formas que o povo palestino abandone seu país e vá para campos de
refugiados em outros países, pois, uma vez fora, o Estado judeu não os
deixa mais retornar. É uma verdadeira crise humanitária, pois milhões de
famílias estão separadas há gerações, sem nenhuma perspectiva de algum
dia se reunirem de volta em seu país de origem. A negação do direito de
retorno é uma das grandes violações do Estado de Israel perante o povo
palestino.
8 – Israel é o país que mais recebe “ajuda militar” dos Estados
Unidos desde o final da Segunda Guerra Mundial, com uma média de 1,8
bilhão de dólares anuais. Desde o seu nascimento, Israel se consolidou
como um dos mais poderosos e destrutivos exércitos do mundo (a quarta
maior potência, segundo a maioria dos especialistas). Apesar de seu
elevado potencial nuclear (e sua propensão às agressões e conflitos),
Israel se recusou a assinar grande parte dos tratados internacionais que
envolvem não-proliferação de armas nucleares, utilização de armas que
causam danos a civis, entre outros desrespeitos aos Direitos Humanos
mais básicos.
9 – Ao contrário do que dizem, não foram os árabes que “inventaram” o
terrorismo como ferramenta de luta. Pelo contrário, o ataque
indiscriminado a alvos civis para causar terror foi algo muito praticado
pelos judeus entre 1910 e 1950. No entanto, enquanto movimentos
populares, partidos políticos e grupos de resistência árabes são
condenados por unanimidade pelas potências ocidentais (que também
praticam suas violações de Direitos Humanos ao redor do mundo), os
movimentos terroristas judaicos (tratados na história hoje como heróis)
tinham total apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido com armas,
logística e equipamentos. Apoio, aliás, que os governantes israelenses
violadores dos Direitos Humanos atuais também possuem.
10 – O lobby israelense para invisibilizar o povo palestino e seu
país é tão poderoso que conseguem manter o país ocupado quase como sendo
um não-país. Tanto é que a Palestina passou 64 anos desde a criação de
Israel para ser reconhecida finalmente em 2012 como “Estado observador”
da ONU. E esta mera aceitação como observador foi motivo de revolta de
Israel e dos Estados Unidos, que ameaçaram parar de contribuir com o
orçamento da ONU após perderem a votação por 138 votos a 9 (votações
parecidas com as que demandam o fim do bloqueio econômico a Cuba por
parte dos Estados Unidos, até hoje não cumprido). Apesar do ínfimo
avanço, a Palestina vergonhosamente ainda não foi reconhecida como
membro pleno da ONU, que não tem qualquer poder para parar Israel e suas
sucessivas violações dos Direitos Humanos.
11 – Israel utiliza em suas agressões militares armas que foram
proibidas pela ONU como o fósforo branco. Desde 2006, quando tentou
invadir o Líbano e foi derrotado pelo Hezbollah (“Partido do Povo”, em
árabe), crescem as denúncias de que o exército estaria utilizando estas
armas em locais densamente povoados, causando terríveis efeitos sobre a
população civil.
12 – Outra prática vergonhosa e muito utilizada por Israel e outras
potências imperialistas são os auto-atentados, ou seja, provocar ou
simular um incidente para que ele seja utilizado como justificativa para
ataques a outras nações ou grupos. Esta tática para garantir apoio
popular local e internacional foi muito utilizada na história deste
país. Basta lembrar do caso de 2006, onde foi divulgado que um “cidadão
israelense”, Gilad Shalit, havia sido sequestrado pelos terroristas do
Hamas na Faixa de Gaza, dando início à Guerra em que Israel matou
milhares de civis, tomou diversos territórios palestinos na Cisjordânia e
tentou tomar o Líbano! Depois não tiveram como esconder o fato de que
Gilad Shalit era um soldado israelense, infiltrado no território
palestino para espionar e divulgar a localização de lideranças do Hamas
(partido eleito democraticamente para o governo da Faixa de Gaza) para
bombardeio às suas casas posteriormente.
Espero que isto forneça a alguns elementos para ao menos desconfiar
cada vez que ouvir da mídia hegemônica que “terroristas palestinos
atiram míssil contra Israel” ou, “conflito entre Palestina e Israel
deixa tantos mortos”. Gaza não tem exército, força aérea ou marinha.
Israel é a quarta potência militar do mundo. A resistência à ocupação é
permitida pelo direito internacional. A ocupação de Israel, o cerco e a
punição coletiva de Gaza, não.
Nunca esqueça que o que acontece naquele lugar é um verdadeiro
massacre a um povo. Uma mancha na breve história da humanidade que
precisamos remover e reparar para que possamos finalmente viver em paz
com justiça social e fazer desta Terra a Pátria do ser humano e da
natureza.
Por Thiago Ávila, consultor internacional e membro da Executiva Nacional da Insurgência
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