Em
2014, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos
Recursos Naturais (IUCN) está celebrando os 50 anos de existência da sua
Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção, ferramenta
globalmente utilizada essencial para guiar ações de conservação e
decisões políticas.
Apesar
da data, na realidade, pouco temos para comemorar além de alguns poucos
esforços bem sucedidos para a remoção das espécies das categorias de
maior ameaça. Uma atualização da lista foi divulgada na semana que
passou e incluiu mais 817 espécies. Assim, agora são 73.686 espécies
avaliadas, das quais 22.103 (30%) estão ameaçadas de extinção.
A
lista é atualizada duas vezes por ano. Anunciando os novos números, a
IUCN deu destaque para dois grupos extremamente preocupantes. Um deles
são as orquídeas conhecidas como sapatinhos (sub-familia
Cypripedioideae), que têm quase 80% das espécies ameaçadas de extinção.
Elas
são encontradas na América do Norte, Europa e Ásia (regiões
temperadas), onde a destruição do seu habitat e a coleta das espécies
selvagens para alimentar o comércio local e internacional são as
principais causas da ameaça. “O surpreendente da avaliação é o grau de
ameaça a essas orquídeas”, comentou Hassan Rankou, especialista da
IUCN.
A IUCN também destacou que 94% dos lêmures estão ameaçados de extinção.
Das 101 espécies sobreviventes, 22 estão criticamente ameaçadas, 48 estão ameaçadas e 20, vulneráveis. Isso os torna um dos grupos de vertebrados mais ameaçados da Terra, e os culpados são a destruição do seu habitat e a caça para a alimentação. “Apesar da profunda ameaça aos lêmures, que tem sido exacerbada pela crise política em Madagascar [os animais são endêmicos deste país], acreditamos que ainda há esperança”, comentou Christoph Schwitzer, especialista da IUCN.
Ele
acredita que ações conjuntas entre os pesquisadores, comunidades e ONGs
podem ter sucesso na proteção de espécies ameaçadas de primatas.
Brasil Em nosso país, a IUCN já avaliou cerca de 5.500 espécies, e, na
primeira atualização de 2014 da Lista Vermelha, deu destaque para o
tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes tricinctus), mascote da Copa da FIFA
2014, que permanece classificado como Vulnerável. Acredita-se que a
espécie declinou em mais de um terço nos últimos dez a 15 anos devido à
perda de 50% de seus habitats, a Caatinga e o Cerrado.
O
risco é tão grave que o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) instituiu o Plano de Ação Nacional para
Conservação do tatu-bola, o PAN Tatu-bola. A caça predatória, a
destruição de seus habitats e o pouco conhecimento existente sobre a
espécie têm ameaçado sua sobrevivência, aponta o ICMBio. Em nível
nacional, a espécie integra a Lista Oficial das Espécies da Fauna
Ameaçadas de Extinção, classificada como Em Perigo. A IUCN nota que o
status de Vulnerável do tatu-bola pode mudar com o anúncio da avaliação
nacional.
Em
uma reportagem para a revista National Geographic, a equipe da IUCN
explica que o mascote da Copa 2014 recebeu o nome de Fuleco, uma fusão
das palavras futebol e ecologia. “Porém, o quanto o uso do
tatu-bola-do-nordeste como mascote da Copa do Mundo se traduzirá em
conservação para ele e para as outras nove espécies de tatu do Brasil,
resta ser visto”, enfatizam.
Outras espécies
A
atualização da lista também teve como triste notícia a extinção na
natureza de uma samambaia endêmica do Arquipélago das Bermudas, a
Diplazium laffanianum, também causada pela destruição do seu habitat,
além da introdução de espécies exóticas. A boa notícia, enfatizada
pela IUCN, é a recuperação de uma espécie devido a esforços de
conservação da Autoridade de Parques e Natureza de Israel. O peixe
Acanthobrama telavivensis, mais conhecido como Yarkon bleak, encontrado
apenas em Israel, saiu da categoria Extinto na natureza para Vulnerável
devido a um programa de reprodução em cativeiro dos últimos 120 peixes
que haviam restado na natureza.
Em
2006, nove mil peixes nascidos em laboratório foram liberados no seu
habitat restaurado. “Apesar de celebrarmos alguns casos de sucesso
para a conservação em cada uma das Listas Vermelhas da IUCN, há um longo
caminho a percorrer entre onde estamos agora e 2020, o prazo
estabelecido por quase 200 governos para estancar a perda da
biodiversidade e evitar a extinção de espécies”, notou Jane Smart,
diretora do Programa Global de Espécies da IUCN. A IUCN pretende que a
lista seja um Barômetro da Vida, aumentando o número de espécies
avaliadas de cerca de 70 mil para pelo menos 160 mil até 2020.
A
Lista Vermelha é um dos inventários mais detalhados do mundo sobre o
estado de conservação mundial de várias espécies de plantas, animais,
fungos e protistas, servindo de referência para a maioria dos projetos
de conservação e instituições renomadas, como a BirdLife International.
“Ao longo dos últimos 50 anos, a Lista Vermelha da IUCN tem guiado o
trabalho de conservação – pouquíssimas ações positivas acontecem sem a
Lista Vermelha como um ponto inicial”, comentou Julia Marton-Lefèvre,
diretora geral da IUCN. “Precisamos continuar a expandir o conhecimento
sobre as espécies do mundo para melhor compreender os desafios que
enfrentamos, estabelecer prioridades de conservação e mobilizar ações
concretas para acabar com a crise da biodiversidade”, enfatizou.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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