quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Dia da Consciência Negra >> Data promove debate sobre oportunidades e desafios do negro em Mossoró

   Fonte: Jornal O Mossoroense

O Dia da Consciência Negra, celebrado hoje, 20 de novembro, é uma data comemorada desde os anos 60 e instituída oficialmente pela Lei Federal 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data promove a profunda discussão sobre a inserção e as possibilidades do negro na sociedade brasileira e rememora a morte de Zumbi dos Palmares, líder da mais famosa comunidade quilombola da história do país.
 
Em Mossoró, a data normalmente passa despercebida pela maioria da população, e diferente de outras cidades, não há feriado local. Porém, intelectuais e artistas militantes da causa comentam a importância de que se discuta consciência negra para além da comemoração, pensando na igualdade étnica e nas dificuldades de ser negro em pleno século XXI.
 
A atriz Lenilda Sousa, militante da causa negra, comenta que o racismo e as desigualdades étnicas permanecem por todo o país, apesar do grande número de políticas afirmativas. Ela ressalta que em Mossoró esse preconceito já foi muito mais forte, porém hoje acontece de maneira velada, entrincheirado em disparidades que podem ser percebidas diariamente.
 
"Percebemos as desigualdades étnicas escondidas por detrás da negação aos direitos básicos de saúde, educação, no direito à ocupação dos espaços. Os negros sempre recebem salários menores do que os brancos, até mesmo quando são mais preparados, isso é comum em Mossoró", comenta a artista, que completa afirmando que a população negra mossoroense está nas favelas e comunidades carentes, sofrendo agressões e abusos, exposta diariamente ao mundo das drogas.
José Glebson Vieira, professor de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) e vice-coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), comenta que em Mossoró a situação do negro ainda é muito complicada; para ele, a ideia de que a cidade foi pioneira na libertação dos escravos muitas vezes contribui para que não se perceba o preconceito na cidade.
 
"Em Mossoró, a discussão é muito semelhante à do resto do país, os negros ainda vivem em condições muito complicadas, o racismo ainda é muito forte e as condições de vulnerabilidade do negro ainda são muito grandes. Em nossa cidade, com todo esse passado tido como abolicionista e com discursos que endossam a ideia de que Mossoró não tem negros, acaba havendo um recrudescimento de um racismo velado", comentou o professor, que ainda lembrou a importância das cotas e das ações afirmativas nas lutras das comunidades afrodescendentes por todo o Brasil.

Mossoró comemora libertação antecipada de escravos no dia 30 de setembro

De acordo com pesquisadores, Mossoró foi a primeira cidade potiguar a libertar seus escravos, em 30 de setembro de 1883, cinco anos antes da Lei Áurea, que concedeu alforria a todos os negros escravizados do país.
 
Apesar de não haver feriado em nenhum dia da Semana da Consciência Negra, o dia 30 de setembro até hoje é comemorado com festas e apresentações teatrais por toda a cidade, relembrando a atitude protagonista dos abolicionistas mossoroenses. A data é feriado municipal desde 1913.
 
De acordo com Ariana Costa, professora mestra do Departamento de História da Uern (DHI), o 30 de setembro resultou de um misto de interesses e as comemorações promovidas desde então permitiram que a data ganhasse maior amplitude na cidade.
 
"Datas como 30 de setembro são instituídas como uma memória oficial controlada pelo estado, a fim de criar uma imagem pioneira que sempre foi usada com fins políticos. Acredito que a data é uma convergência de diversos interesses, políticos e econômicos da época, representa uma importante conquista, mas que só se solidificou como uma data mais lembrada e comemorada do que o Dia da Consciência Negra por conta das comemorações e festejos que todos os anos movimentam a cidade", concluiu a pesquisadora.

"Quando eu era adolescente, vivia situações muito graves de preconceito racial. Certa vez, fui acusada de roubo, apenas pela cor de minha pele; em outra ocasião, deixei de ser escolhida como ‘Rainha do Milho’ na escola porque era inaceitável que uma negra ocupasse tal cargo. Ainda hoje, quando chego a locais mais refinados, olho para os ladose não vejo nenhum outro negro, sei que ainda vivo como uma exceção" Lenilda Sousa

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