Neurocientista
contou que pacientes se emocionaram no primeiro contato com o
exoesqueleto. Eles já estão aprendendo a usar a veste robótica que
permitirá a um paraplégico dar o pontapé inicial da Copa.
Está nos jornais do mundo inteiro, nas principais revistas
científicas. Alimenta esperanças de mais de 25 milhões de pessoas que
dependem de cadeiras de rodas. E, sim, está no caminho certo: os testes
do projeto Andar de novo estão melhores do que o imaginado.
“Os resultados estão muito acima do esperado. Não tínhamos a
perspectiva de estar tão adiantados no ponto de vista clínico e ter
resultados tão interessantes do ponto de vista neurocientífico da
maneira que a gente teve nos últimos meses”, disse o coordenador do
projeto, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
Na tarde segunda-feira (28.04), um dos oito pacientes paraplégicos
que participam desta etapa do projeto realizou a caminhada inaugural com
o exoesqueleto, dando 18 passos e três chutes. Outros dois pacientes
fizeram trajetos semelhantes, segundo informou Miguel Nicolelis. "Três
pioneiros brasileiros que emocionaram a todos nós com a sua coragem e
determinação", disse o neurocientista por meio de sua página no
Facebook.
O laboratório de neuro-robótica montado em São Paulo tem movimento
praticamente 24 horas. Entre uma sala e outra, circulam cientistas do
mundo todo dedicados a aprimorar uma tecnologia inovadora que terá a
primeira grande demonstração na abertura da Copa do Mundo da FIFA 2014.
Passos de aviador
A estrutura tem nome e sobrenome: Brasil Santos Dumont. Assim os dois
primeiros exoesqueletos que chegaram a São Paulo no início de março são
chamados pela equipe. Um deles está montado e o segundo, em fase final
de montagem.
O exoesqueleto é uma veste que incorpora os últimos avanços da
robótica. Com ele, pessoas paraplégicas poderão voltar a andar, como diz
o nome do projeto. Os pacientes são responsáveis por controlar a
máquina com a atividade cerebral. Mensagens como a vontade de andar, de
se mexer ou de parar são captadas pelo robô para que os movimentos sejam
gerados. E, devido à presença de sensores na planta do pé, o
exoesqueleto também devolve ao paciente sensações do mundo exterior.
“O exoesqueleto tem 1,78m, quase 1,80m. O peso final não está
definido, porque faltam alguns testes. Será algo em torno de 60, 70
quilos. Mas isso é irrelevante porque o paciente não vai sentir, a
máquina vai ser responsável pelo equilíbrio do paciente e por controlar o
peso do exoesqueleto, enquanto o paciente determina o início dos
movimentos, o término e, obviamente, o chute. Os sensores vão ficar na
planta do pé e vão entregar esses sinais no braço da pessoa, que vai
imaginar as pernas andando, se locomovendo e pisando no chão por meio
desse feedback que recebe nos braços”, explicou Nicolelis.
Arquibancada virtual
A contagem regressiva para a Copa não mexe só com as expectativas de
jogadores e torcedores. A primeira grande demonstração do projeto Andar
de Novo será feita em 12 de junho, na Arena Corinthians, em São Paulo,
pouco antes do jogo de abertura entre Brasil e Croácia. Usando o
exoesqueleto, um dos oito pacientes vai se levantar da cadeira de rodas,
caminhar por cerca de 25 metros no campo e dar o pontapé inicial do
Mundial.
“Estamos refinando o exoesqueleto e os pacientes estão aprendendo a
caminhar com ele, a habituar-se a todas as nuances desse caminhar. É
como se você estivesse adquirindo um corpo novo, como se você aprendesse
a andar de novo, literalmente. Não é uma máquina passiva, há uma
interação nas duas direções, e isso nunca foi feito. A demonstração da
Copa é apenas o começo dessa interação”, explicou o neurocientista.
O local em que o pontapé inicial será dado também é levado em conta
nos testes. Um moderno ambiente virtual montado no laboratório reproduz a
atmosfera de um estádio lotado, com estímulos visuais e sonoros
semelhantes.
“Todos os pacientes foram capazes de realizar as atividades mentais
que eles precisam para comandar o exoesqueleto nesse ambiente e, nesse
sentido estamos tranquilos. Além disso, todos estão sendo acompanhados
por um grupo de psicólogos”, disse Miguel Nicolelis.
O neurocientista não tem dúvidas de que tudo sairá como planejado na
abertura da Copa, com bilhões de pessoas assistindo, ao vivo, a uma das
maiores conquistas da ciência brasileira e internacional. Com um
detalhe: um palmeirense de coração dará esse presente ao mundo no
estádio do maior rival. “Na Hora H, meu chapeuzinho do Palmeiras vai
estar a postos, não tem problema”, brincou.
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