quarta-feira, 7 de maio de 2014

Meio Rural >> Quando o agronegócio aperta o gatilho

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Frederico Henriques, Sociólogo e Educador Popular

Hoje, dia 6 de Maio de 2014, aconteceu mais um triste episódio na luta pela reforma agrária no Brasil. Dois companheiros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Chacal1 e Civan2, foram assassinados após um ato bem sucedido na rodovia no entorno de Apodi.

A chapada do Apodi é uma das áreas com o solo mais rico do nosso Estado, que sempre sofreu com os grandes períodos de estiagem. Apesar das dificuldades do clima adverso, assentamentos e importantes experiências agroecológicas vinham sendo desenvolvidas em toda esta região. A partir de uma iniciativa do Ministério da Integração Nacional e do Sr. Deputado Henrique Alves o governo federal propôs uma iniciativa de irrigação, conhecido como o Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi. Longe de beneficiar as milhares de famílias Sem Terra no Estado ou os projetos vigentes, a água que passará por toda a Chapada não será compartilhada com os assentados, muito menos haverá qualquer processo de reforma agrária.

Contra esta política do agronegócio e da especulação da terra na região do Apodi, o MST junto a diversos movimentos em defesa da terra ocuparam há oito meses, com mais de 1200 famílias, a região beneficiada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), dando um recado claro aos governos e às elites que dominam o Rio Grande do Norte.

Durante todos estes meses, estes movimentos têm pedido uma audiência com o Ministro Gilberto Carvalho – Secretaria-Geral da Presidência da República – para conseguir debater a situação das famílias acampadas e negociar a desapropriação para a reforma agrária do perímetro beneficiado pela DNOCS. Esta agenda nunca foi marcada e a farsa se transformou em tragédia.

Neste dia 6 de Maio, o Ministro da presidenta Dilma esteve no RN não para debater os problemas do nosso Estado, mas pedindo uma reunião com os movimentos, especialmente a CUT e o MST, para conter as manifestações durante a Copa – como vem fazendo em todas as cidades sede.

Em vez do diálogo, a chegada do Ministro foi anunciada com um confronto da Polícia Rodoviária Federal numa manifestação do MST, que exigia a aceleração das desapropriações prometidas pelo governo na região de Santa Maria. Em outra manifestação simultânea na região do Chapada, o movimento retira os 500 trabalhadores, com o intuito de não aumentar o tensionamento com o governo.

É neste contexto que no trecho entre o acampamento Edivan até Apodi, dois homens numa moto sem placa atiraram e assassinaram os dois acampados do movimento, com o objetivo de calar e assustar os acampados e o movimento dos que lutam pela reforma agrária na região. Mais uma vez o agronegócio ceifa a vida de lutadores.

Não podemos mais tolerar os dados alarmantes da violência no campo. Não podemos mais tolerar as constantes ameaças que jagunços armados fazem a trabalhadores desta região. Não podemos mais tolerar que uma democracia os movimentos continuem sendo criminalizados.

Em defesa da democracia no Campo e pela desapropriação do perímetro irrigado da Chapada do Apodi. SOMOS TODOS CIVAN E CHACAL.

1Francisco Laci Gurgel Fernandes
2Francisco Alcivan Nunes de Paiva

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