segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Música" e violência >> 'Incita o estupro', diz carta de grupos sociais em repúdio ao clipe da música 'Tigrão Gostoso'.

NOTA DO BLOG:

A música tem, ou pelo menos deve ter como uma de suas funções o despertar do sentido poético, da cidadania, do romantismo e tanto outros outros sentimentos que fazem parte da vida humana... Porém, o que torna-se inaceitável é o fato dessa expressão artística ser usada por alguns, como forma de expressar preconceitos, de incitação a violência, a prostituição, da apologia às drogas, da desvalorização da figura feminina... como temos visto em grande parte de determinadas músicas ou estilos musicais, que por falta de conteúdo ou mesmo ou até de uma visão cidadã, são jogadas no mercado e consumidas pela sociedade que as consome sem nenhum critério de seleção ou até mesmo uma busca pelo sentido estético e poético que a música, enquanto arte deve nos oferecer.

SEGUE A MATÉRIA:
banda de pagode incita estupro em clip (Foto: Reprodução/Youtube)
Jovem corre de seis homens dentro de casa
(Foto: Reprodução/Youtube)
O vídeoclipe de uma banda do município de Vitória da Conquista, cidade localizada a 447 km de Salvador, lançado em dezembro de 2013, tem repercutido negativamente entre políticos e representantes de associações que defendem os direitos humanos na Bahia.

As cenas veiculadas na produção independente, que já tem mais 66 mil visualizações no Youtube, têm sido encaradas como incitadoras ao crime de estupro. (Veja videoclipe)

O videoclipe foi produzido pela banda Abrakadabra, que despontou no cenário regional há três anos, cantando músicas que mesclam arrocha, tecnobrega e pagode.  A produção integra os  serviços de divulgação da atual música de trabalho do grupo: "Tigrão Gostoso".
O vídeo original, que teve o início editado após as críticas, apresentava uma estudante andando sozinha em um matagal seguida por um homem encapuzado. Percebendo a perseguição, ela deixa o material escolar cair no chão e corre. Logo em seguida, a mulher acorda do que teria sido um pesadelo.

A parte seguinte do vídeoclipe, que não foi alterada na edição, mostra que a mesma mulher, ao acordar, tem a casa invadida por seis homens. "Abra a porta logo que eu quero entrar. Não adianta se esconder. O tigrão vai te pegar" , fala um dos invasores, em trecho da música.

Correndo do grupo, que é composto pelos próprios integrantes da banda, a mulher diz: "Mas eu tô com medo. Você vai me machucar?". Em resposta, um dos invasores conta: "Sou o seu tigrão gostoso. Só precisa relaxar. É na hora do espanto que o bicho vai, toma, toma, então toma".

Em entrevista na tarde deste sábado (25), a deputada estadual Luiza Maia disse que vai se reunir com a equipe jurídica na próxima segunda-feira (27) para discutir providências que possam penalizar a banda pela veiculação do vídeo. "Trata-se de uma produção de mau gosto e agressiva às mulheres. É uma encenação que mostra um homem querendo pegar uma mulher sem ela querer. É a incitação de um crime. Vamos nos posicionar",  promete a deputada da bancada feminista.

banda de pagode incita estupro em clip (Foto: Reprodução/Youtube)
Em um momento do clipe, jovem é jogada na
cama (Foto: Reprodução/Youtube)
Nota de repúdio
Por conta do videoclipe da banda, Tâmara Terso, da Marcha Mundial das Mulheres, convocou reunião com representantes do grupo na cidade de Vitória da Conquista e juntas com outros representantes de movimentos sociais elaboraram uma carta de repúdio ao clip.

 Em nota, a carta de repúdio diz que “o clipe se desenrola de forma a enaltecer a posição do estuprador, colocado como a figura do “tigrão gostoso”, de modo a associar a agressividade à masculinidade. Por outro lado, reforça a imagem da mulher como um ser frágil e submisso, sem autonomia de vontade, sendo explícita a apologia ao estupro durante toda a música, como pode-se perceber nos trechos: “mas eu tô com medo, você vai me machucar” ou “é na hora do pavor que o bicho vai pegar”.

“Nós construímos uma carta junto aos movimentos sociais feministas, negro e outros representantes sobre o conteúdo do clipe e da letra da musica. É uma violência contra a mulher, principalmente uma incitação ao estupro. Não é um crime consumado, mas a letra é uma apologia”, reflete.

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