Diante de ruas que só falam aos carros, campanha pede
que autoridades pensem em sinalizações para os não motorizados
O leitor já deve ter se deparado com a seguinte
situação ao caminhar por ruas e avenidas de qualquer cidade brasileira:
você precisa chegar a algum lugar, um determinado endereço que sabe
estar próximo. Procura uma placa de sinalização, muitas vezes
inexistente, mas ao finalmente encontrá-la, ela aponta um caminho,
mas... que caminho?
Você sabe que essa localidade está à sua esquerda, mas a placa aponta
a necessidade de pegar a direita e fazer uma conversão mais à frente.
Se você está a pé, que sentido faz isso? Nenhum, claro. O que acontece é
que essa sinalização não “fala” com o pedestre. Ela se dirige,
exclusivamente, aos seres devidamente motorizados.
Esse não é um caso isolado. Cerca de 90% de toda a sinalização
existente em nossas cidades são dirigidas para motoristas, ou seja, para
um público que, nem ao menos representa a maioria dos deslocamentos nas
cidades.
Uma recente pesquisa divulgada pelo Datafolha em São Paulo constatou
que o ônibus é o principal meio de transporte diário das pessoas, com
79% das respostas. Em seguida vem o metrô, com 39%, e só em terceiro
lugar aparecem os carros, com 17%, um pouco à frente dos usuários de
vans, lotações e peruas, com 13%. Ainda segundo a pesquisa, 7% dos
entrevistados disseram andar apenas a pé.
Uma campanha do portal Mobilize especializada em mobilidade urbana e denominada Sinalize quer contribuir para mudar essa realidade.
Para os organizadores do movimento, o objetivo não é “encher as
cidades de placas” que, obviamente, contribuiriam para uma enorme
poluição visual, mas buscar melhor interação e conforto para pedestres,
ciclistas e usuários de transporte público.
Aliás, outra questão apontada pelo Mobilize é exatamente a atenção
que se dá aos passageiros de ônibus que, em geral, é nenhuma! Basta
estar em algum ponto de ônibus e tentar descobrir quais linhas passam
por ali, os respectivos itinerários e indicação de locais de interesse
como hospitais, serviços públicos diversos e pontos turísticos.
Também de modo geral os ciclistas não são contemplados com placas
específicas para esses usuários, com exceção a locais perigosos nos
quais os riscos de acidentes são enormes.
Os cuidados, então, com a segurança dos deficientes visuais, como a
instalação de sinais sonoros, é praticamente inexistente. Fato que
prejudica demais a mobilidade e a independência colocando em risco a
própria integridade física dessas pessoas.
Várias cidades do mundo, como Londres, Nova York e Paris, já possuem
uma série de sinalizações positivas que contribuem para melhorar e
facilitar a vida das pessoas. São totens estrategicamente localizados,
mapas e indicações de pontos de interesse que ajudam muito os pedestres a
se movimentar com rapidez e segurança nessas metrópoles.
No Brasil temos um longo caminho pela frente e muitos desafios. São
inúmeras as ações necessárias para tornar uma cidade mais humana,
amigável e próxima dos cidadãos. E, sem dúvida, aquelas que levem a
inclusão e o respeito contribuem muito para uma vida mais feliz e
equilibrada.
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